PALAVRAS
Contos de uma flama infinita

sexta-feira, agosto 16, 2002

7:26 da tarde.
Água



não molhe a garganta com água.
o combustível para tristeza é o amargo da boca.
Julio Costello

domingo, agosto 11, 2002

2:24 da tarde.
Imperativo em favor de Augusto Santos


Está congelado.

O sangue parece vidro. A pele branca de Augusto está petrificada.

Ele morreu ontem. Três tiros no rosto, o sangue – e nessa gaveta de necrotério parece-me igual quando eu o conheci.

Ele foi Augusto. 40 anos, casado, três filhos – duas meninas e um menino. Sua esposa chama-se Sandra e ainda não sabe da morte do marido. Serei eu a dar a notícia. “Mas como aconteceu?” perguntará a esposa chorando compulsivamente.
“Ontem a noite, quando chegava de viagem, foi assaltado e não reagiu, pura maldade”. A mulher estranhará o fato de o marido chegar antes do tempo conhecido. “Queria fazer-te uma surpresa” direi.

Os filhos agora sabem – estão inconsoláveis.

Enterram Augusto sábado, manhã chuvosa.

A viúva visita-me neste mesmo dia. Fazemos amor várias vezes, demoradamente. Eu procuro a luz em todos os focos e versos do corpo de Sandra.

Os filhos estão na casa dos avós que fazem orações para o filho morto...

Julio Costello

Correio 1
Julio

Correio 2
Diego




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