PALAVRAS
Contos de uma flama infinita

domingo, novembro 17, 2002

10:51 da manhã.
Marla



I.


Manhã. O metropolitano e as saídas. É Outono, mas o cheiro mais forte é o da manhã. Cheira a gente. A gente a fingir de fresca. Cheira a pálpebras em sobrecarga e a vontade de descarga. Cheira a champô e a bálsamo. Misturado. As coisas cheiram a algo: mistura. Algures, entre o Outono e o champô e a manhã. Cheira a laca e a homem das castanhas. Também ele cheira a peso de pálpebras. Fumaça.

O homem das castanhas enrola o perfume matinal, euro e meio a dúzia. Muitas dúzias. Dúzias em rebuliço. Dúzias às dúzias, em marés de chegar, em marés de ir embora. Para chegar e para partir. Movimento.

Manhã. As conversas são poucas. A manhã é escassa nas palavras. Aponta o dedo ao autocarro. Stop. Mostra o passe. Não há bons dias. Não há maus dias. Há dias e dias. E dias. Sempre assim. De manhã cheira sempre a manhã, quer seja Outono, Verão ou Inverno. Ou Primavera. No Outono, as manhãs cheiram a manhã e um pouco a Outono. Talvez seja o homem das castanhas com a fumarada ambulante e as ciganas espalhando os trapos pela manta, no chão. Um cigano vende guarda-chuvas. Compra-se um. Já


é Outono. O dia hoje está Novembro. Talvez o guarda-chuva dê jeito. Hoje ainda chove. Outono, sem um grãozinho de chuva, que Outono é?

O autocarro é passageiro. Somos todos autocarro, até à próxima paragem. A avenida. Bela avenida, a pingar orvalhos. Tudo dentro da mesma nuvem.

Talvez me apeteça um café.

Café. Há lugar sentado. Aproveitemos. Junto à janela, a ver a gente lá fora, a ver as poças, os sapatos sujos, os cartuchos das páginas amarelas, os matutinos debaixo do braço. Passo acelerado. Um homem ajeita as luvas de napa preta. Usa chpéu de feltro. Mãos agora nos bolsos da samarra. Acelera o passo. Não há bons dias.

E, entretanto, o café. Quentinho. Um copo de água, por favor. Primeiro cigarro do dia. Adoro a minha cigarreira de prata. Nunca fumo de luvas. Deixa um cheiro estranho.

O café ainda não cheira a um café. Ainda é manhã de mais. Ainda cheira a gente. Cheira a cheiro de lençóis quentes mal disfarçado. O duche não lava nada. Desmaia o calor das fronhas que se nos estampa nas faces e no olhar. Mas somos baços, mesmo assim. O duche não lava o sono, o cansaço. Não lava os dias por começar. Não lava o não querer começá-los.

Pelo meio, o café. Bom café! Apalpa-se o cigarro até


à nervura do filtro. Ao primeiro, mata-se a fome da
noite em jejum. Esmiuçar até ao esófago das nuvens. Apaga-se o cigarro. Última vista da janela. A invasão
das passadeiras. Autocarros extraviados: era mesmo ESSE o destino? Os autocarros atulhados, atestados. As pessoas cheias. Pagar e fugir. Obrigado.

Apontar o destino num canto qualquer da córnea. Desembrulhar uma direcção da amálgama contorcida dos rostos da cidade. Escolhe um. Vamos a isso. Fêmea. Rosto vincado mas suave. Olhar verde forte, como o mar nos dias carpidos pelas mulheres dos pescadores. Não sofre de solidão, denúncia de aliança. Morena. Escolhida. Cabelos longamente negros. Lábios grossos. Escolhida. Bóina à francesa, descaída sobre um dos lados. Castanha. Estranha. Escolhida. Vamos a isso. Move-se sorrateira mas decidida por entre a multidão impressa nas pedras confusas do passeio. Não corre. Discreta, como quem não quer dar nas vistas. Mas dá. Não escapa. Escolhida. O meu destino e o teu, numa manhã que cheira a manhã. É fácil seguir. Acompanhar-lhe as passadas medidas, elegantes. Atravessa a estrada. Atravesso. Escolhida. Apanhada. Vai descer as escadas do metro. Acompanho aproximação quase quase quase quase hesitação escolhida. Não desço.

Quem será? Não desço. Não quero conhecer-te. Medo?! Chama-lhe o que quiseres. Não quero. Sim, talvez seja medo. Talvez prefira imaginar-te, moldar-te o destino e os gemidos das noites quentes. Talvez prefira saber tudo quanto és, por mim. Não por ti. Não desço. Posso reduzir-te o sorriso, secar-te as lágrimas, mexer-te e deixar-te. Prefiro assim. Prefiro não saber quem és.
Imaginar-te, sem me preocupar com isso que és. Posso chamar-te Marla. Ou outro nome. Será que se chamava Marla?


II.



Jardim. Um banco debruçado sobre a manhã. A cidade em baixo. A cidade atrás, ao lado, em cima. A cidade espalhada e reunida em todo o lado, em toda a gente. Os cigarros amolecem as cidades nos bancos de jardim com paisagem. Acendo. Segundo cigarro do dia.

Marla senta-se na carruagem do meio ( tenho a certeza ), no lugar das grávidas e dos aleijados. Uma velha olha-a. Que olhar tão repreensivo! Marla sabe o que pensa a velha. Levanta-se. A velha senta-se. A velha agradece, Marla sorri-lhe. Marla odeia o mundo, agora, um milímetro mais. E odeia a velha. Odeia o metro, o cheiro. Odeia o chiar esganiçado, quase gemido, das carruagens velhas. Odeia o cheiro da manhã e as manhãs que cheiram a Outono. Marla odeia.

Ajeita a bóina no reflexo do espelho improvisado na porta ( de SAÍDA ). Um jovem devora-a de olhar viscoso. Marla inspira. Marla tem calma. Marla não lhe batas. Não odeies, Marla. É a cidade, Marla. Não vale a pena irritares-te. Mas Marla odeia-o.

Aperta a gabardina. SAÍDA, próxima estação. Dispara uma rajada retinal sobre o baixo ventre do jovem, pelo reflexo na porta ( de SAÍDA ). Quem dera que estes olhares fossem balas e a mente pistola. Quem me dera. Estou farta. Marla sai do metro.

Sol do bom, lá sobre a colina do outro lado. A Sé toda reluzente. Parece um grão de areia ao sol, daqueles que brilham numa praia boa de maré de embalar devagarinho. Tudo o resto é o resto de um domingo de praia: gente gente gente gente. Gente a nadar, gente a correr, a gritar, gente a sujar-se, a mergulhar, gente a comer, gente a afogar-se. Gente. Gente a fazer fazer fazer fazer.

Marla viu o sol, mas de fugida. O café foi curto. O queque, a meio caminho andado. Falta meio caminho. O escritório está perto. Há, porém, o elvador que Marla odeia. Marla, hoje, subirá até ao quinto andar pelas escadas. Sim, estou certo. Marla abre a porta, cansada, arfando. O patrão bondia-lhe, mal-disposto. Marla tira com a língua um último pedaço de queque do molar que a constrange. Bondia ao patrão. Engole o pedaço de queque. Senta-se. Na secretária, emoldurada em formato A5, imitação de casquinha, a família. Marido e um filho. Marido normal, igual a outros maridos de Marlas outras. òculos, gravata, pasta na mão direita, blazer de segunda ( é novo lá no escritório, claro ).

O Filho: o filho não se parece com ela. Nada. O filho não é. O filho não pode ser. Filho como os outros, por via graciosa da natureza. Não é. Marla gosta dele, é certo. Marla ama-o como uma mãe de um filho ama um filho, o seu. Mas a verdade de Marla diz: Este filho não é Filho. Marla adoptou-o. Claro. Marla odeia o mundo. E Marla não daria do corpo um fruto seu aos infernos.

Marla é esta: executiva; tem um marido e um filho. Marla poderia ser feliz. Marla poderia ser feliz de tal modo que alguém fosse capaz de a invejar. Sei-o. Marla é invejada. Feliz?!...
O sol aquece. O jardim esperará até amanhã.

A rua alonga-se por entre o costume da cidade: corropio. Um eléctrico estica três miudos da cauda. Uma curva apertada. Não caem. Um dia será o miudo de Marla sobrevoando os carris, mãos seguras à crina férrea do arrepio. Por hora ainda é por demais tenro. Amigos, só os do infantário - que Marla não pode cuidar dele a todas as horas. Marla tem emprego, compras para fazer e coisas para odiar. Não tem tempo para tudo. Um dia, Marla chegará a casa e Miguel, decerto é este o nome do filho ( que não é Filho ), terá crescido. Tanto, que vagueará pendurado em eléctricos veraneantes à carga de turistas. E Marla nem dará conta. Um dia, Marla sentar-se-á no sofá, ao lado do marido que outrora conhecera. Nesse dia há-de contar-lhe os cabelos brancos e há-de demorar tanto tempo a contá-los que se sentirá velha. Gasta. Espreguiçada tantas e tantas vezes. Marla não sabe como o tempo passa. Marla não tem tempo para dar por isso. Mas há quem a inveje. E, se Marla conhecesse esse alguém, havia também de odiá-lo, por certo. Que Marla é uma mulher de rijezas frias e ódios quentes, dauqeles que afloram a pele logo que toca o despertador. Mas Marla nem repara. Marla só se conhece quando se reconhece no espelho e dá conta de que existe. E, quando o faz, pensa: para quê? Sei que assim é. Marla é facilmente imaginável.

Desce-se a rua e cheira-se o paladar húmido do rio. Maré baixa. O odor dos canos e dos ratos trepa, margens acima, mais facilmente. O sol está mais encoberto. Ainda vem a chover, hoje.


por Diego Armés
Julio Costello



10:45 da manhã.
ódio de estimação


I


Adriana teve uma violenta discussão com sua amiga Paula. Indispora-se por a outra ter-lhe roubado o namorado. Adriana, perturbada, não teve muitos argumentos para vencer a traidora. Preferiu ir para a casa trancar-se no quarto para chorar.
Três meses depois, Adriana destilara bem o rancor. Recordava sempre os favores feitos para a outra, a devoção e o segredos contados, blusa de lã emprestada e não devolvida e outros objetos, passando, assim, a odiar sua melhor amiga.
Foi por esse tempo que descobrira sua gravidez. Pensou que melhor álibi não teria para vingar-se. Um filho! Um filho! Dizia radiosa para o espelho enquanto apalpava a barriga.

O namorado seria avisado, acabaria o caso com Paula e tudo voltaria ao normal.

Ao receber, no seu aniversário, um cartão e em anexo o resultado de um exame de gravidez, o namorado de Paula pensou tratar-se de uma brincadeira. Verificou o nome constante do exame e telefonou para Adriana, dizendo não assumir a paternidade.

Chorando, Adriana não teve palavras para contrariar às do telefone.

Paula e o namorado casaram-se seis meses depois, coincidentemente na época em que Adriana estava para dar à luz ao bebê.


II



A floresta está repleta de árvores frondosas. Pássaros cantam alegremente. O rio corre manso e Paula acaricia o marido. Comentam coisas do cotidiano, fazem planos para o primeiro filho. Relembram a história dos dois: Adriana, filho, ameaças e casamento.

Paula diz sentir muito a incompreensão da amiga e que ainda a estima. O marido diz não estar arrependido, que fizera a escolha certa. Beijam-se.

Os espectadores observam Adriana empurrando um carrinho de bebê. No primeiro plano o casal se abraça trocando palavras de amor.

Ana, distraída ao responder uma pergunta à irmã, não percebe quando Adriana dispara três tiros em Paula e dois no ex-namorado. A platéia em alvoroço parece não aprovar o gesto.

Ciro, que não desgrudou os olhos da cena, fica um tanto chocado com o realismo empregado pelo diretor.

Através dos olhos de Juliana a heroína arrasta os corpos até um tronco de árvore, beija-os e os abraça fortemente. Os olhos de Maria José vêem os seios de Adriana ensopados de leite e sangue e, pelos ouvidos de Leandra, ouvimos o choro da criança.

Silvana admira a coragem da protagonista em fingir amamentar a criança com os seios de Paula.

Adriana une os corpos sobre a toalha do piquenique. Despede-se do palco com um olhar perdido, a empurrar o carrinho do bebê. Fecham-se as cortinas.

Julio Costello



10:34 da manhã.
Acordas Manuel


As moscas da rua já não são as borboletas de antigamente. O escárnio dos milhafres, grasnado a horas indecentes, arrepia-te os capilares. Saboreias as palavras dos outros, mas as cócegas que te fazem não te dão para a descontracção. São estas as maravilhas do mundo. Não são sete, são mais. Ou menos. É assim que estas coisas se contam: por aproximação, desaproximação, distanciamento e infinito. É assim que se faz das maravilhas as coisas maravilhosas que elas são.

Acordas Manuel e adormeces manual. Manualmente, como se te masturbasses, mas não o fazes porque és indecente e achas que isso é imoral. Acordas Manuel, para o trabalho, esse ingénuo, ignorante e afável. Adormeces manual, porque sabes como se fazem as coisas da sobrevivência. Não te dá prazer; adormeces imóvel – assim fica a presa quando sabe do predador. Nem tudo isto é peace and love, por assim dizer.

A nudez do espelho lembra-te a podridão da juventude.

Anseias pelo obséquio dos senhores que importam e retribuis com uma lambidela húmida e coerente.

Acordas Manuel, olhas-te ao espelho: sim senhor, confere, Manuel! Adormeces manual, cheio de instruções, indicações, contra-indicações, definições, cifrões, informações, ebulições e irritações.

Andas sozinho e teimoso. O feitio e o formato das ruas não te dão paz ao cerebelo. Tens a mania sensata de concordar com quase tudo. Olhas-te mais uma vez ao espelho, só como quem confirma se ali está, se há ou não. As ternuras do passado são fechaduras borbulhosas em que raras vezes tocas. Tens medo. Desaproximas-te. Levas à boca a malga, afogas o estômago numa zurrapa qualquer, deixas-te aniquilar. Largas-te embriagado.

É tudo tão digital, tão paranormal, tão funcional, às vezes, intelectual. Tu, Manuel, és manual. Nuca te fizeste à estrada. Sonharas um dia ser caixeiro viajante ou vagabundo ou outra espécie de aventureiro. Ter uma mala grande. Levar lá dentro uma mulher boa. Dar-lhe fodas pelo caminho. Mas não. Isso seria indecente. Imoral. Tu és vertical, especial, formal. E és razoável, fiável, inviolável, incansável, até sociável.

Vacilas, incapaz do equilíbrio das aves. É natural.

A mulher é como a pêga. Uma coisa negra e chata que bate a asa quando lhe apetece. Pelo caminho, aspira com o bico o quanto luza. E tu, Manuel, flores, para ti, só das que se cheirem. Entretanto, manual de novo. Faz-se assim o sexo à maneira do solitário. Mas desse não fazes tu, que se te abalam as morais. Logo ouves o rosnar dos deuses, como quem denuncia o pecado.

Vais à igreja aos domingos, conversas com o senhor, contas as maldades da língua, da mente e da tentação que se te ergue no corpo. Escutas a sentença, acenas que sim, que não mais se te erguerá a vontade do pecado, vais em paz e descansado, feliz contigo mesmo. Afastas os pensamentos venosos, largas e deixas cair a memória dos beijos, lá longe, na primeira esquina que te ofereça vida.

As valsas que enxergas no canal porno, finges que não existem. São mentiras que os melros pernoitantes exclamam lá fora no pátio. Encolhes-te. Que vergonha! Tudo mentiras, mas deus vai desconfiar do derrame no lençol do costume. Vai à casa de banho, lava as mãos, esfrega daí a sujidade azeda. È mentira!, diz de novo.

Lês a Bíblia ao jantar, embebedas-te no agridoce dos milagres do salvador, confessas-te ao talher mais próximo, como se o fizesses a um santo: eu, Manuel, sou manual!

Por Diego Armés
Julio Costello



10:29 da manhã.
Rivais noturnos entre os devaneios de Rita e João




Na noite anterior, João não dormiu. Passeou pelos cantos da casa, sentou-se e nada de sono. Resolveu ler, não conseguiu atentar para o que estava lendo, desistiu. Ao ligar a TV, percebendo a sua inexpressividade quebrou-a. Às três da manhã, perseguindo o que poderia ser o único fio de sono – perdeu-o e viu-se entediado, isolado entre o dia e a noite, sem perceber que, ao lado, a casa do vizinho ardia em chamas, um senhor de meia-idade morria na rua ao lado e os cães fugiam.

Entorpecido como numa espécie de transe, olhou o fogo até o esmorecer. Na manhã, dia claro, acordou. Percorreu os azulejos do banheiro embaçados pelo vapor do chuveiro. Encontraram-no dormindo no banco do jardim. Acordaram-no, era tarde. Não compareceu ao trabalho. Deitou-se na cama. A casa do vizinho não estava lá.

Feriado Nacional. João desfila com seu terno. Ele é influente. Destaca o bilhete de passagem e embarca num navio rumo ao nada. Acompanham-no o vizinho chamuscado, o cadáver e a matilha perdida. Mesmo no momento da extrema unção percebe não ser portador de outros sacramentos. O navio decola. Enquanto o navio transborda em sua abundância de víveres, João se alimenta. Em seu camarote recebe a companhia de Max, o cão pastor. Daí entram em um colóquio filosófico sobre a origem da água na aquavia. Batem à porta, recebe então a Condessa, senhora robusta que faz ranger o assoalho com seu peso considerável. Fala-lhe das possíveis dietas e de suas predileções gastronômicas. Saem aborrecidos a Condessa e o cão pastor. Embarcam logo a seguir numa chata, gritam-se impropérios. O argumento de ambos é sobre a conversa com João. Você, Condessa, fragmentou minha conversa com o nobre João. E Você, cão pastor, troçou do meu comentário sobre as iguarias.

João está sozinho no camarote. Depois de se entreter com a conversa, continua só. Depois de certo tempo resolve visitar o vizinho chamuscado que o recebe friamente. O vizinho apresenta-lhe suas queimaduras de terceiro grau e a órbita do olho direito que se esvaiu nas chamas.

“Clamei por ti vizinho. Enquanto minha família se tornava carvão o sr. dormia. Pedi socorro e não o recebi. Hoje não tenho paz, o lado esquerdo de meu pulmão foi incinerado e sequer posso segurar uma xícara de café. Respeitei teu sono, no entanto, no infortúnio, não me valestes. Agora me fecho contra esse mundo cruel de carne fresca que agora se me apresenta. Se tu soubesses o que é ter o coração queimado certamente entenderia meu sofrimento”. João retorna ao vazio daquela noite. Não entende porque a matilha invade seu camarote.

Dentro do quarto percebe um cheiro acre, nauseabundo. É o cadáver a lhe perseguir a lhe dirigir palavras hostis, responsabilizando-o pelo seu fim. Lembremos que João é uma personalidade influente e que deveria pôr segurança no seu bairro, organizar o próprio ambiente de trabalho e o cenário de sua insônia. João diz não ser responsável e que nada entendeu, e que era difícil suportar tantas acusações infundadas de pessoas equivocadas e suspeitas.

O travesseiro exige - pede uma resposta para sua aposentadoria antecipada. Não é usado há duas semanas. É lançado através da janela do camarote afundando a exatos dois minutos. Numa confusão sem precedentes João chora silenciosamente, refaz-se e rumo ao restaurante encontra uma foto no chão.

A foto em branco e preto revela uma imagem já conhecida. Alguém que o espreitara desde o choro, propositadamente depositara aquela foto: sugestão de um encontro silencioso e João logo compreende.

Rita o espera ansiosamente, quase ofegante - minutos antes, a foto e a fuga - na mesa em que sempre o esperara. João senta-se ao seu lado e com um sorriso causa o efeito esperado e exprimem ternura, quase um bálsamo para a pior das dores.

No barco salva-vidas observam-se os transeuntes a chegada ao porto. Ouvem-se murmúrios, gritos de crianças ansiosas. velhos lamentam por cansaço. A cidade é bela, com suas casas e pessoas simpáticas. Rita e João se despedem. Rita volta ao barco, João para casa. Continua o trajeto e sua tragédia particular ao encontrar-se perdido na conexão do sono desfeito.

Todos: o vizinho chamuscado, o senhor de meia-idade morto e os cães sabem que só poderão ver luz e regressar à casa dos pais no momento em que João adormecer.


Julio Costello



10:13 da manhã.







O Paquistanês das Flores




I - O Primeiro Capítulo


Entrou em casa, de rompante, sem medo, como uma bala desvairada e senil, acrobaticamente arrependido, mas, por outro lado, constipado e eufórico. Exclamou mãe!, com um sorriso nos dois lábios, fez uma pausa e alongou a exclamação mãe! estou grávido!. A mãe primeiro não ligou, depois não quis saber, finalmente espirrou, depois assuou-se, tossiu, sorriu, grunhiu, por fim explodiu: grávido, meu puta?! outra vez?! Estava furiosa. é a segunda vez esta manhã, meu porco. Levanta-te e vai já lavar as mãos!
A mãe era uma fera. Ia à igreja apedrejar o padre, quando tinha paciência. Entretanto, o pai chegou a casa. ah, meu anormal, cheiras-me a prenho outra vez. a mãe logo acrescentou esse puta anda sempre a engravidar. Floriano ergueu-se da cadeira, muito hirto, de semblante carregado, beiços obstinadamente voltados para o chão, narinas a ferver, doía-lhe o joelhito. Sentia-se, no fundo, ofendido.
Quando o pai lhe sentenciou vou te molestar a espinal medula, em consequência de teus irreflectidos actos Floriano ajoelhou-se, retirou dos bolsos um lenço ensanguentado, comeu-o e exclamou por ti arrotarei, velho pai! O pai - sempre incógnito no seu jeito silencioso de pensar, sempre calado enquanto não falava, sempre respirando fundo, arfando a malvadez que lhe corria nas veias pelos poros desobstruídos, sempre sendo o pai – olhou-o, tirou um canivete do bolso das calças de fazenda, afiou-o no tampo da mesa, que era de mármore encarnado, de Milão, uma fortuna, puxou do filho Floriano a condenada e tristonha espinal medula. Floriano arrotou. A mãe concordou que as tuas preces se ouçam nos confins da rua, assim como o teu castigo me sirva de emenda para não mais praguejar antes do sol se pôr. O pai olhava sereno aquela parte perversa do corpo, mole, gelatinosa, húmida.

II - O Capítulo da Vingança


Um relâmpago monstruoso e sinistro abriu, sem hesitações, a porta da coelheira. Carminda, a coelha fantasma, aproveitou e, de um pinote, com toda a felicidade que lhe era permitido sentir estampada no rosto, galgou para o quintal das traseiras. Ouviu barulho dentro da casa. Aproximou-se, sentiu o cheiro do esfaqueamento que se adivinhava. Decidiu agir. Espreitou pela janela e deparou-se com aquele triste teatro: o pai sentado, afiando o minúsculo canivete na belíssima pedra da mesa; Floriano de joelhos, sem espinal medula, arrotando em vão; a mãe dando graças a deus, sem saber por quê, tecendo largas teorias ao disparate que se lhe acercava da cabeça insonsa e vaga. Carminda, a coelha fantasma, não se conteve. Quando o velho pai se preparava para esfaquear, de uma só vez, com tamanha crueldade e frieza, a frágil espinal medula de Floriano, Carminda, a coelha fantasma, gritou stop, for god’s sake. are you loosing your mind? don’t you do that again, never again, you heard me?! now, get up and go wash your hands.
O pai, que era um pouco estúpido na sua maneira habitual e imbecil de ser, na sua bem-humorada fantasia de estar sempre mal disposto, na sua jangada feita de espinhas de bacalhau - que nunca ninguém viu, e eu já nem sei por que é que falei nisto -, o pai, paciente e leucémico, ergueu-se e foi lavar as mãos que jorravam nada, porque não tinham sangue. Carminda benzeu-se e agradeceu a deus por não ter chovido durante quarenta dias e quarenta noites, pois seria um disparate inundar assim as pessoas e podia até trazer nefastas consequências à agricultura e, mais ainda, às pescas, uma vez que os peixes disporiam então de muito mais água por onde nadar. Seria um caos, com os pescadores a correr de um lado para o outro, cana de pesca às costas, tentando, em vão, apanhar cardumes e cardumes de piscícolos fugitivos, que certamente fugiriam para sítios tão estranhos e remotos como o Sardoal. Com isto tudo, a mãe agradeceu também a deus, não por não ter chovido, que a pesca e as couves não lhe interessavam por aí além, mas porque sentiu uma estranha iluminação ao ver Floriano apontar-lhe a lanterna. Floriano disse Ide-vos agora, doce e extremosa mãe. Ide-vos em paz, e em paz ficarei eu, embora intranquilo, pois meu coração palpita e saltita e já não sei mais que fazer. Talvez tome uma aspirina. E tomou.

III - O Capítulo Com Imigrantes Clandestinos


Carminda partiu então em busca de um desconhecido que lhe oferecesse flores ou então um colar de diamantes, ou qualquer coisa original, como uma jangada de espinhas de bacalhau. Era então noite, uma noite leitosa e materna, como Carminda não vislumbrara nunca. As estrelas cintilavam, airosas, mesquinhas, entorpecidas, afáveis, afro-americanas, talvez nem tanto. Era lindo!
Floriano saiu de casa para ir trabalhar. A labuta, ganha-pão da altura para a famigerada, injustiçada e desfavorecida classe operária. Floriano era, obviamente, estalinista, embora não tivesse as melhores recordações dos seus tempos longínquos de criança, em que brincava de esconde esconde e bate-pé, de toca-e-foge e supermen, em que, diziam, imitava na perfeição gente que ninguém conhecia e até animais que nem deus se lembrara de inventar. Um verdadeiro aristocrata hipocondríaco, com crises gastro-intestinais frequentes e eloquentes a julgar pela forma como lhe transtornavam o rosto, já de si distorcido. Mas nem sempre. Havia dias - há sempre destes dias - em que Floriano não era tanto assim, nem tão pouco outra coisa, mas apenas um comunista, nem distorcido nem por distorcer. Assim assim.
Carminda, a coelha fantasma, encontrou um desconhecido, interpelando-o com grande à-vontade e boa disposição, se bem que de uma forma um pouco obscena então, as minhas flores? interrogou, mostrando as pequenas tetas com grande sensualidade. O desconhecido ripostou, sem demora, frô? eu não tem frô. ma tem xamomn. qué xamon? Carminda acenou que sim, retirou do bolso da gabardina misteriosa, que até aqui não existia, e que a partir de aqui talvez nem volte a existir, quinhentos escudos. Em troca, recebeu um naco castanho em forma de sabonete de motel (quinhentos escudos!...).

IV - Um Capítulo Parado, à Espera de Um Autocarro


Estava, de repente, como que por magia, um dia vistoso e bem cuidado, com um sol um pouco acabrunhado e distante, mas agradável. O sol estava distante e ainda bem. O dia era vistoso, o que é bom, mas era um dia igual aos outros, uma vez que os outros também tinham um sol vistoso. Só não era, habitualmente, tão distante. Mas a vida é assim, um dia não são dias e o sol quando nasce, uma vez por dia, não mais que isso, não pára de nos surpreender com as suas graçolas pueris e com baixo teor alcoólico.
Carminda, a coelha fantasma, sentou-se numa paragem de autocarros amarelos para fazer a ganza de xámon. A paragem de autocarros amarelos era um pouco ineficiente porque era um pouco deficiente. Mas, no fundo, todos somos um pouco deficientes. Mas a paragem era mais, porque era tetraplégica e, acima de tudo, porque era daltónica. Assim, não só mandava parar todos os autocarros, julgando que todos eram amarelos - ou então não, uma vez que ela não sabia o que era ser amarelo ou não-amarelo; de qualquer forma, nunca na vida houvera visto uma cor que fosse -, como também não conseguia correr atrás dos autocarros perdidos.
Estava Carminda, a coelha fantasma, queimando seu xámon na calma pasmaceira incolor e daltónica da paragem de autocarros amarelos, quando vislumbrou, ao fundo da rua, muito carregado, caminhando devagarinho e com dificuldades, Floriano, o homem da espinal medula molestada. Este abeirou-se da paragem de autocarros amarelos, estendeu, o mais que pôde, o braço direito, e, ostentando na respectiva mão um enorme e amarelo objecto, perguntou à paragem desculpe, por acaso foi você que perdeu este autocarro? ao que a paragem não soube responder, porque era uma paragem estúpida e não falava português e era surda, como se não bastassem todas as outras lacunas que a preenchiam, por dádiva da mãe-natureza e oferta da divina providência. A paragem não respondeu e Floriano marimbou-se para o autocarro, deixando-o cair com estrondo. O autocarro amarelo tinha um ar esgaziado e tarado sexual, daqueles que andam de gabardina no parque, sem vestirem roupa interior para cobrir as partes exteriores, deslumbrando velhinhas saudosas e gatas com o cio. Mas, se calhar, até era um bom autocarro. Andava era sempre perdido. Carminda, a coelha fantasma, reparou, porém, que Floriano não se livrara ainda de todo o peso que o entorpecia. Na mão esquerda, o homem da espinal medula molestada, segurava com esforço a mesa de mármore vermelho de Milão, que valia uma fortuna e que era um disparate trazer assim para a rua, sujeita aos elementos da natureza e vulnerável a carácteres com propensão para amizades fáceis com bens alheios. Se alguém lhe roubasse a mesa, como iria esse alguém transportá-la até casa? E Floriano, como iria não-transportá-la até casa? São boas perguntas! Há aqui uma certa intriga, diria um certo suspense. E mais. Por que é que Floriano, o homem da espinal medula molestada, trazia com ele a mesa de mármore vermelho de Milão, que valia uma fortuna? Talvez tivesse fugido de casa e tivesse querido trazer com ele uma recordação, um souvenir, como se diz na Nazaré. Floriano trazia ainda, numa mochila que lhe carregava as costas doloridas e inoxidáveis, o paquistanês das flores, de seu nome Shakmibah. Vinha encolhido e a pensar em todas estas coisas, só que numa língua mais estranha, pelo que não vale a pena reproduzir, fiel ou infielmente, as palavras com que pensava os pensamentos. O melhor será mesmo ficarmos com uma ideia global do seu momento de interrogação. De qualquer forma, era visível o seu estado interrogativo, uma vez que vinha encolhido, sim, mas em forma de ponto de interrogação. O que não deixa de ser curioso num paquistanês.

V - O Capítulo


Para a paragem de autocarros amarelos os dias não eram fáceis. Mas é assim a vida, um dia atrás do outro tanto dá na galinha que não mete a colher. Melhores dias virão, por certo. Mas com cores tão indefinidas como as de hoje. Isto é também um dado adquirido.
Floriano, o homem da espinal medula molestada, e Carminda, a coelha fantasma, conversavam alegremente após terem fumado a ganza. O paquistanês das flores, de seu nome Shakmibah, dizia qué mais? eu tem mais? si qué mais eu vende. poucos dinero. quinhento. só quinhento dinero. aproveita já, que Shakmibah estar bem disposto. quinhento dinero, vá. Floriano respondeu-lhe que não e Carminda perguntou-lhe se ele tinha flores, mostrando, libidinosamente, as suas tetinas meio húmidas na pontinha obscena dos seus seios pequenos mas redondos. O paquistanês das flores, de seu nome Shakmibah, pensou que estava a ter um déjà vu, e decidiu partir. Aparentemente não gostava de palavras em francês. Ficaram na paragem de autocarros amarelos apenas Craminda e Floriano e o cheiro do xámon. Shakmibah, o paquistanês das flores, deixara também um pouco do seu odor, o que era óptimo: assim evitava que Floriano e Carminda tivessem saudades dele; por outro lado aumentava o efeito da droga.

VI - O Capítulo em que aparece o Camarada Normando


Chegou o camarada, que era lunático, vinha da Normandia ainda com um palito nos dentes. Trazia os dentes na mão. Veio no autocarro amarelo, que não parava. Veio e foi, se o autocarro não parou. A esta hora, já devia estar perto da Normandia, outra vez, que os circuitos dos autocarros amarelos são sempre iguais, ora num sentido ora no sentido inverso. É pena, podíamos ter ficado a conhecer melhor o camarada, que era um pouco lunático. Embora eu o tenha conhecido, nos tempos em que também andei meio perdido, ora para cá, ora para lá, no autocarro amarelo que passava pela Normandia. A Normandia é um sítio muito bom. Só é pena não ter paragem de autocarros amarelos. Nem sei porque é que os autocarros amarelos passam por lá, se aquilo nem tem paragem de autocarros amarelos. Vendo bem, nem sei porque é que há autocarros amarelos, se eles não param em sítio algum. Viajar, sempre se viaja, não se chega é a lado nenhum. É um pouco como a vida. A vida também não pára, é muito trabalhadeira, boa dona de casa. Mas isso leva-a a algum lado? Não leva. Vê a novela das nove, e é quando tem tempo. A vida não é para quem pode. Quem não pode é como quem não come. Gato que treme com frio arregala os olhos só de ver um pardal a ladrar.
Mas a Normandia... Que saudades que eu tenho da Normandia. E de outros sítios também. Mas o que mais me fascina são as interjeições: o 'mas', por exemplo. Adoro repeti-lo incessantemente ao longo dos textos. Mas isto não é sempre. E sempre também não é só isto. Pau que bate cego na costura das calças, arregaça as mangas e foge para França no dia de Ano Novo. Adoro a sabedoria popular. Um sábio que é popular, pode nem saber nada, desde que fale na televisão. É como os escritores: podem nem escrever nada de jeito. Desde que não escrevam por cima da televisão, ninguém lhes liga, tal como aos que escrevem coisas de jeito. Riacho que nasce coxo, canta de dia e amanha-se durante a noite, não vá o diabo tecê-las.
Sei que um dia o camarada Normando, aquele lunático do autocarro amarelo, que não pára e que passa muitas vezes - todos os dias - pela Normandia, há-de chegar a bom porto. E então poderei contar a história da sua vida, que é tão biográfica que parece real. Hoje em dia é difícil ter uma vida real. A monarquia extingue-se a olhos vistos. Rei que apanha fruta e dá explicações de matemática aos domingos e feriados, tarde ou nunca se endireita. Cão que morde duas vezes, ladra para morder só da primeira. A menina da tanguinha é muito melhor que a minha vizinha.
O Normando é um gajo estranho. Foi então que irrompeu, como um furacão destemido, cor de rosa e epiléptico, Carminda, a coelha fantasma. Trazia o rosto ensanguentado como uma urtiga, ou como duas urtigas. E, em seguida, ninguém sabe o que aconteceu ao certo. Dizem as más línguas actho quielhes visserão zecso. Mas ninguém percebe as pessoas com defeitos de fala, ainda por cima na língua. Oh!, a língua! E logo a língua! Não há coisa pior que uma língua, quanto mais uma má língua. Uma má língua é como um penalty mal marcado.
O Normando é um gajo estranho. Abana a cabeça para dizer que não. Para mim é igual. Deixei de lhe falar, já lá vão quase vinte e dois anos. E podiam ser mais, se não fosse aquele trágico acidente. Ainda há jornais que não falaram disso. E, já se sabe, jornal que não fala disso, não apanha nem rede nem peixe. Na Normandia o melhor são as paisagens. E no Normando também.

VII - Talvez o Capítulo Final, Nunca se Sabe


Floriano sentou-se, de forma calma e contida, na beirinha mais extrema do colchão. Na bordinha, como se diz em Figueiró dos Vinhos. Uma luz branda e bondosa alumiou-lhe de forma ténue o doce rosto. Dócil, Floriano ergueu-se. Passou as mãos trémulas pelas curvas ofegantes e sedentas do corpo que se plantava na sua fronte. Reparou que estava húmido. Um voz disse Floriano, a tua mãe, desta vez, acertou-me em cheio. Era o padre. Floriano reconhecer-lhe-ia a voz, nem que fosse no cúmulo do infinito. Floriano ficou feliz por ver de novo o padre, embora a luz fosse precária devido à falta de pagamento da conta de electricidade, tendo, inclusive, sido ignorados sete 'últimos avisos de suspensão do serviço'. O padre esvaía-se em sangue. Morria, aos poucos, nos braços de Floriano. As suas últimas palavras foram tira daí a m... Floriano não percebeu e não tirou de lá a mão. Padre que morre viscoso acorda com mau hálito, de certeza.
Floriano cogitava, o padre permanecia inerte, em câmara ardente. Floriano pensava na mãe, esse animal embestecido, tomado de rédeas pelo diabo impiedoso. Ser terrível e vocacionado para o homicídio das hostes mais beatas. A mãe. Floriano odiava a mãe. E a mãe não sabia. A mãe era uma ignorante, pálida, virgem, carrancuda, velha e má língua. E, já se sabe, as más línguas são como um penalty mal marcado. A diferença é que estão dentro da boca.
O pai de Floriano, esse, era um homem bondoso e de fé. Nunca batia em padres e, muito menos, em freiras. Usava collants mas ninguém sabia. Nem ele próprio. Eram uns collants muito modernos e baratos que se rompiam mesmo antes de estarem vestidos. O que era óptimo, pois assim tornavam-se muito menos incómodos, especialmente em dias de calor ou de menstruação. E em, ainda mais especial, nos dias de calor e de menstruação. O pai de Floriano era um homem sensível e destemido, pelo que me vai ser difícil compará-lo a alguma coisa. Ficamos assim.

VIII - Capítulo Absurdo


Carminda, a coelha fantasma, entregou-se às autoridades por razões desconhecidas. Coelha que se entrega e é fantasma e às autoridades e é desconhecida e não tem razão, não entra mais nas minhas histórias!!!

FIM

Por Diego Armés
Julio Costello

Correio 1
Julio

Correio 2
Diego




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